VANILDO RIBEIRO
( Brasil – Pernambuco )
( 1899 - )
CAMPOS, Antonio; CORDEIRO, Claudia. PERNAMBUCO, TERRA DA POESIA - Um painel da poesia pernambucana dos séculos XVI ao XXI. Recife: IMC; Rio de Janeiro: Escrituras, 2005. 628 p.
Ex. bibl. Antonio Miranda
QUIXOTE MORTO
Os últimos passantes, como tudo,
Sumiram num cortejo sonolento
E o cavaleiro audaz corria ao vento,
Tendo na espada a cruz, no altar o escudo.
Lembrando figurinos de um entrudo,
As flores cirandavam no relento...
Para adornar, após fatal momento,
Deram os faunos verbenas e veludo.
Vestindo um balandrau, fogoso infante,
A noite, em vertical, cortou no meio...
Cantava a cotovia num mirante.
A luz bruxuleava homens pobres
Assim como se achava, estava alheio,
Aquele das feições guapas e nobres.
(Aprendiz de Bissexto, 1983, p. 12)
TELEVISÃO
Tenho minha calma consumida
Pela imagem e a voz que vêm de fora.
A sala tão quieta, as cores calmas,
Destacadas dos quadros das paredes,
Das frutas na fruteira repousadas,
Nos pratos descansando em velha arca,
O silêncio envolvente, quase morno
De acolhedora cadeira, cujos braços,
Me apoiam, como outrora imagem santa
Me envolvia em som e vulto santo,
Na certeza da paz e segurança.
Mas a imagem e a voz que vêm de fora,
Abruptamente abalam minha calma
Com mensagens agourentas ou guerreiras
Parecendo que do vídeo escorre sangue
Que inunda minha sala de silêncio
E se serve de pratos repousados
E vai manchar os quadros das paredes
E inutilizar as frutas não servidas
E sufocar a cadeira acolhedora
Ou o vulto santo que me protegia.
A música que me chega de permeio
Vila o ninar e as cirandas
De reclinado corpo que a escuta
Massacrado pela imagem e a voz monótona
Que vêm de fora para minha sala.
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Página publicada em setembro de 2022
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